Ana Carolina fala sobre adoção, violência contra gays e carreira em entrevista ao "O Estado"
►Confira a entrevista do jornal O Estado com a cantora Ana Carolina.
O ESTADO | Depois de um bom tempo você retorna ao Ceará para mostrar a turnê de seu último disco “AC” em Fortaleza. Nesta nova turnê você deixa um pouco de lado as baladas românticas e adota um som mais groovy, mais dançante, assim como no novo disco?
*ANA CAROLINA | É uma mistura, o show tem as baladas também. Um dos pontos altos é quando canto “Coração Selvagem” do Belchior - o pessoal adora! Também tem “Eu sei que vou te amar”, que eu não poderia deixar de fora. Mas é também um show alegre, pra cima e tem um certo quê de celebração dos meus 15 anos de carreira. Diria que o show mais completo e equilibrado nesse sentido. Ele tem agradado aos que gostam de uma “balada” e os que gostam da “balada”.
O E. | Como é sua relação com os fãs cearenses?
*A. C. | Gosto do humor e do respeito com que eles tratam a música. São festivos no momento de festa e sentimentais nos momentos mais românticos. Sinto muito carinho do público cearense.
O E. | Depois de muitos hits, sua voz entrou na abertura de uma novela da Globo, “Em Família”, com a música “Eu sei que vou te amar”. Em entrevista a Ana Maria Braga você disse que se emociona toda a vez que canta essa música. A emoção que você usa seria uma das “chaves” de seu sucesso? Quais outras músicas de seu repertório te emocionam até hoje, quando você canta ao vivo?
*A. C. | Nossa, acho que tenho uma relação emocional com todas elas, obviamente as que são mais românticas acabam nos tocando de uma forma diferente. “Eu sei que vou te amar” é uma velha companheira. Lembro de tirar ela no violão pela primeira vez, quando ainda estava aprendendo a tocar, depois a cantei em bares e hoje ela levou a minha voz para a abertura da novela. Tom e Vinicius são mestres e me tocam profundamente. A emoção é parte da conexão com o público, quando canto eu olho quem assiste e tento me colocar no lugar deles, é justamente a emoção que nos une em um show. São tantas emoções, gosto muito quando canto composições de outros como “Força estranha” do Caetano ou “Coração Selvagem” do Belchior: ali misturo a intérprete com a ouvinte, que um dia foi tocada pela canção e ainda se emociona ao cantar para o público.
O E. | Há alguns meses você foi “atacada” por uma fã que te “agarrou” no palco. Tem medo desses fãs mais “fervorosos”? Qual situação mais inusitada ou curiosa por que você já passou em apresentações ao vivo e nunca mais esqueceu?
*A. C. | Não fui atacada (risos), fomos todos vítimas da tal “emoção” que a música desperta. Às vezes, fazemos loucuras por amor mesmo e quando percebemos, já fizemos. Esse foi o caso, a menina subiu para me dar um abraço e sem querer me derrubou. Era “Eu sei que vou te amar”. No dia seguinte colocaram barricadas no show, mas eu mesma preferia estar mais perto do público, tocá-los. Em Salvador, na Concha acústica do Teatro Castro Alves, onde o palco fica no nível do chão, o público na arquibancada era enorme, foi uma loucura, parecia uma tsunami de fãs vindo em minha direção, uma reação em cadeia. Tivemos que parar o show. Depois eu voltei e pedi para seguirmos numa boa, seguiram e deu tudo certo.
O E. | Mesmo com sua postura discreta, sem querer “levantar bandeiras”, você nunca deixou de se posicionar em relação à liberdade sexual que todos deveriam ter, e sempre foi admirada e respeitada por isso. Qual a sua opinião em relação aos casos de violência contra homossexuais que acontecem constantemente no Brasil? Você é a favor de uma lei que condene pessoas nesses casos de homofobia e preconceito?
*A. C. | Sou a favor de a humanidade parar com o uso da violência contra homossexuais ou qualquer indivíduo, estamos em um mundo em que pais jogam filhos pelas janelas, amigos se esfaqueiam por conta de resultado do futebol. É inadmissível ainda estarmos discutindo o uso de violência gratuita contra seres de bem. Sou a favor da liberdade e o bom uso dela, sou a favor de um mundo livre, sem preconceito, sem julgamentos quanto à opção sexual, religiosa, raça e qualquer coisa que seja motivo de um ser humano atentar contra a vida do outro. Temos que respeitar as diferenças.
O E. | Em algumas entrevistas você comentou o interesse de ter filhos, e em uma delas disse que era essencial para um filho ter um pai (homem). Continua com a mesma opinião? E no caso de adoção por pais homossexuais, é extremamente necessário para essa criança ter uma mãe? Ainda sonha ter filhos? Pensa em adotar?
*A. C. | Meu pai faleceu quando eu tinha dois meses de idade, cresci sem um pai e estou aqui para contar: é possível crescer sem a figura materna ou paterna, mas eu digo que uma criança deve ter um lar estruturado e amor, ter pais ou mães dedicados ao seu desenvolvimento. Tenho uma irmã que tem duas filhas adotivas e vejo que também seja possível formar uma família sem laços genéticos. A maternidade chegará na hora certa, está em meus planos.
O E. | Além de ser consagrada como cantora, você é prestigiada como compositora pelos maiores artistas da Música Popular Brasileira. O que gosta mais, cantar ou compor? Quais as diferenças e prazeres das duas funções?
*A. C. | Poderia falar sobre esse assunto por dias, mas gosto das duas coisas e não me furto de cantar canções de artistas que admiro mas, para mim, compor é parte do meu trabalho, da minha forma de expressão e acho muito bom poder cantar o que componho. Neste último trabalho além de compor e cantar, decidi criar, dirigir e editar os videoclipes de algumas canções e gostei bastante da experiência, pois assim o público além de ouvir uma composição minha, pode ver como a interpreto de maneira visual. Quando estou em meu quarto ou no estúdio com o violão para compor uma canção, a cantora e a compositora são uma coisa só e assim me sinto mais inteira, mais completa. Gosto também de interpretar canções de outros, mas é bom assinar um trabalho e poder cantá-lo.
O E. | Em ano de eleições e Copa do Mundo, o que você espera do Brasil em 2014?
*A. C. | Ordem e progresso.
O E. | Pretende lançar um novo disco ou DVD este ano?
*A. C. | Este ano irei viajar com o show “#AC”, que em algum momento vai ser registrado, mas já tenho ideias para mais dois discos, na hora certa eles aparecerão. Agora, quero comemorar meus 15 anos de carreira ao lado do público. Espero ver todo mundo no show.
►►Serviço
• Show Ana Carolina #AC. Dia 9 de maio de 2014, às 22h. Local: Musique - Av. Washington Soares, 6257. Ingressos: Pista R$42,00, Frontstage R$ 62,00, Camarote R$ 100,00. Vendas: Salão de Beleza Absolut (Rua Nunes Valente, 145) ou Online. Informações: 85 3230-1917. Classificação etária: 18 anos.
Fonte: www.oestadoce.com.br